Assunto pessoal

Não aprecio estender minha mão, pois acho que o que transmite suor não é higiênico. Minha opção é um abraço de leve ou palmadinha no ombro ou pescoço. Ou melhor ainda, um aceno de cabeça.

Orgulhos

Da minha boca não sai notícia ruim, nem falo mal de ninguém, procedimento que tomei do meu saudoso amigo e hospedeiro Chico Philomeno, que era irrepreensível.

Orgulhos

Nunca ter saído de nenhuma empresa, e trabalhei em quase todas, atirando. Entrei calado e saí em silêncio.

O pai da criação

“Bisturi Afiado” foi como passei a denominar o cirurgião Glauco Lobo, cujo pai era psiquiatra.

Assunto pessoal

Fazem-me um grande mal o falso humilde e aquele que quando dá notícia ruim posa de triste, quando, por dentro, está prenhe de alegria, sobretudo quando se trata de falência ou separação conjugal.

Assunto pessoal

Elogio é tão bom que, mesmo sendo falso ou não correspondendo à verdade, amacia o ego, pois faz bem ao espírito.

Má companhia

Não convide pra sua casa o transmissor de más notícias, aqueles que comunicam, como se estivessem fazendo uma grande coisa, quem acaba de morrer, de falir ou de se separar. Esses frequentam tranquilamente qualquer lista de indesejáveis.

Ou dá ou desce

Ser favorável à pena de morte é ser pela vida. Ser contra a pena de morte é ser pela morte. O bandido só respeita a morte, portanto, pra evitar que ele tire a vida dos outros, temos de matá-lo.

Assunto pessoal

Detesto, desculpem os maus modos, mas não vejo outro verbo, quem se aproxima de mim pra contar notícia ruim. À pergunta cretina “você já soube?” respondo logo que se não se trata de coisa boa, e nunca se trata, prefiro não saber. E essa é uma das razões pelas quais não gosto de atender telefone.

Assunto pessoal

Minha primeira ida a Ibiza foi num barco da Transmediterrânea, saindo à noite de Barcelona e amanhecendo na ilha balear. Depois, protagonizei várias idas e vindas, até que, da última vez, achei o serviço deficitário e a limpeza do navio suspeita. Fui também roubado, quando ocupei uma cabine. Hoje, só uso avião.

Assunto pessoal

Numa das minhas viagens pelo Expresso de Oriente, consegui, usando a recepção do hotel, reservar no Harry’s Bar de Veneza, dotado de brilhantes histórias, tal, por exemplo, aconteceu na recepção do casamento da atriz Rita Hayworth com o príncipe Ali Khan, o pai do noivo, o Aga Khan, passou tranquila cantada na noiva, sua nora, portanto.

Assunto pessoal

Evito andar de helicóptero, e amigos como Beto Studart sabem dessa minha oposição. E sempre alego que, tendo viajado (de helicóptero) entre os dois principais aeroportos de Londres, nada tenho mais que fazer nesse campo, decididamente aéreo.

Assunto pessoal

Quando estudei Francês no Cavilan de Vicky, durante quatro anos, um mês por ano, sempre em março, porque era inverno e tinha lugar no curso e na pensão. Enfrentando galhardamente entre oito e dez graus, cheguei a pegar neve e resisti à tentação de entrar no cassino, que ficava a dez metros de onde me hospedava.

Lei da compensação

Deus livrou o pobre de dois contratempos, primeiro é que ninguém lhe pede dinheiro emprestado, porque não tem onde cair morto, e também não lhe pedem aval, pois o banco não aceita.

Jamais te esquecerei

Jogos dominicais do Presidente Vargas. Meu pai Natalício ia me deixar, estando eu algumas vezes acompanhado de meu partinte irmão Nilson, que não era muito de futebol. Um dia, eu me esqueci de pedir o dinheiro da volta, pois tinha que pegar dois ônibus. Resultado, vim a pé do estádio até nossa casa, na Avenida Dom Luís.

Momentos são

Quando Virgílio Távora governador me apresentou a Carlos Lacerda, que me estendeu a mão, estando este repórter certo de que estava conhecendo o futuro Presidente da República, que eu lamento até hoje os militares não o terem feito.

Viagens que ficaram

Num navio de bandeira grega, Odissey, em busca do Sol da Meia-Noite. A recepção do comandante ia ter caviar e champanha francesa. Acontece que eu não tinha levado rigor, mas ficara amigo do barman e dos garçons que me serviam, e cada um me emprestou uma peça, da gravatinha ao sapato, só não a cueca.

Vã filosofiaz

Pobre tem uma vantagem. Quando aparece um pretendente pra casar com sua filha, ele não desconfia de golpe do baú.

Momentos são

Quando em agosto de 1961, poucos dias antes da desastrada renúncia de Jânio Quadros, procurei dona Albanisa Sarasate no Hotel Regina, do Rio, e lhe passei meu desejo de trabalhar em O POVO. Quando ela marcou para eu voltar às seis horas daquele mesmo dia, “para falar com o Paulo”, eu parti com a certeza de que já estava empregado. E não deu outra.

Aos pés do altar

Nada contra, pessoalmente, entretanto acho pertinente informar que noivo não pode usar relógio, a não ser de algibeira, quando casa de fraque ou casaca. Sendo assim, faz-se mister deixar seu relógio de pulso para a lua de mel e daí por diante.