Histórias do pasto

Fui eu que inaugurei o Panela, obra-prima do Chico Philomeno, promovi uma noite de gravata preta, com a presença do melhor do melhor, inclusive o Rubens Costa, que contra a sua vontade estava deixando Banco do Nordeste, onde cumpria brilhante gestão, pelo BNH, numa imposição do grande presidente Médici, transmitida pelo poderoso ministro Delfim Neto.

Coisas do pasto

As duas grandes fases dos restaurantes do Náutico e do Ideal foram, respectivamente, com José Khoury, que não entendia de cozinhas, mas disciplinava a turma, e os tchecos Navratil, que mantiveram, durante anos, casa cheia até no almoço. Ambos saíram por razões que as diretorias poderiam perfeitamente ter contornado.

Pasto passado

Pouca gente sabe que antes de abrir o Sandra’s, na Beira-Mar, Sandra Gentil passou pelo Panela, na Praia de Iracema, por sinal, no meu entender, o Panela foi melhor que o Sandra’s.

Pasto antigo

O Lido, restô instalado em meio dos anos 50 pelo francês Charlie Dell’Eva, no seu glorioso início, depois das dez da noite, ninguém podia mais entrar, embora quem já estivesse dentro permanecesse, não por muito tempo.

Fundo

A baixa cotação dos políticos é revelada pelo fato de que os restaurantes paulistas, que exibiam retratos deles como frequentadores habituais, tiraram os quadros da parede, porém mantiveram um prato, Robalo al Funghi.

Aula maestra

O serviço Vermeil é o mais requintado (e mais caro) do mundo. Trata-se, no caso, de talheres de prata banhados a ouro. Aqui, nunca vi. Não sei mesmo se a Yolanda Queiroz teve, embora recebesse muito, e até mesmo figurões da sociedade brasileira e da política nacional.

Mão boba

Nos arredores do Centro da cidade, estamos nos anos 50, aconteceu um coquetel. Havia um bifê, mas a fita só seria aberta depois dos discursos. Porém, faltou luz, que voltou em um minuto, e os presentes observaram, então, que uma senhora expelia sangue pela mão. É que, aproveitando o breu, ela foi em cima de uma bandeja de salgados, e uma amiga teve a mesma ideia, só que, usando um garfo, e, em vez da empada, espetou a mão dela.

Aula maestra

Diz-se guarnição aquilo que acompanha o prato numa refeição, seja almoço, seja jantar. É o caso, por exemplo, do arroz, do macarrão, do pirê de batata e do pirão, esse, com a peixada. Não é gastronômico servir mais de uma guarnição. Por exemplo, arroz com pirê ou macarrão.

Pingo nos IS

Os garçons e muitos clientes chamam erradamente de taça o copo de pé. Mas taça é aquela aberta, que se usava antigamente para tomar champanha, hoje quase totalmente substituída pela flute, embora eu continue preferindo o antigo vasilhame.

Pergunte a quem tem Lúcio

Tem vinho pra feijoada? Penso que, devido às carnes, o tinto pode acompanhar, embora, pela cartilha, faça melhor casamento com uma caninha.

Histórias do pasto

Faz tempo, tinha um garçom que encontrou uma maneira de puxar na conta. Ele atacava em duas frentes, punha na conta um prato que não tinha sido servido e também aumentava na conta. O cliente reclamava o item do prato, mas se sentia atendido com o desconto que o rapaz fazia, sem atinar que o golpe era duplo, pois o servidor continuava faturando extra na despesa.

Questão de pasto

Chamam-se de guarnição os complementos de uma refeição, tipo arroz, pirê, pirão e macarrão, que completam a carne, o peixe e o frango, para não falar no camarão e na lagosta, que são muito caros.

Questão de pasto

O francês não admite que você acompanhe um prato com refresco. Pode até ser água, mas refresco não, cujo gosto interfere no paladar da comida. Ele também não faz questão do vinho, que é preferencial, porém a cerveja tem a sua vez. Ou, como se disse há pouco, água do pote.

Questão de pasto

Questão de pasto A moqueca não é baiana, e, sim, espírito-santense. Tanto que se diz “moqueca capixaba”. Aliás, a cozinha baiana, tendo origem africana, é perigosa, pois muito apimentada. Que o baiano só come quando tem visita de fora.

Contrapartida

O caranguejo pode ser saboroso. O Aldenor, que produzia, em minha cabana do Cumbuco, La Belle Aurore, deliciosamente preparado ao molho de cerveja, feijão e legumes verdes. Em compensação, traz muita mosca para onde é servido.

História do pasto

Primeira vez que o Ramon Serrano, o famoso presunto ibérico, veio a público em Fortaleza foi quando o espanhol Artur abriu um pequeno restô ao lado do Imperial do Pedro Lazar. Não era o Pata Negra, porém, uma novidade, que a clientela logo apreciou.

Histórias do pasto

Histórias do pasto José Khoury foi o maior condutor do restaurante do Náutico até hoje. Quando ele saiu, o clube, que vivia cheio, nunca mais recuperou. O libanês era um disciplinador, e logo descobriu uma mutreta do pessoal de serviço, que escondia lagosta em saco plástico no fundo da lata do lixo. José Khoury deixou o Meireles, pois pediu aumento de 0,25 por cento no faturamento, que a diretoria negou.

Dicionário brasileiro

Arroz amargo foi expressão criada por mim para abranger aqueles jantares nos quais os convidados pesados, ditos malas, constituem a maioria da mesa, ferindo o princípio da agradável convivência, que é, afinal de contas, mais importante que a comida.

Histórias do pasto

A famosa peixada da Beira Mar perdeu o charme, que consistia no seguinte: no final da tarde, as jangadas aportavam no Mucuripe, bem em frente aos restôs que a produziam. Traziam os pescados frescos, que iam direto pros camburões onde os esperava aquela salmoura com todos os temperos. Então, à noite, as cozinhas soltavam aquela delícia, o pirão, então, era um acontecimento. Pois bem, essa elaboração não existe mais.

Histórias do pasto

Fui eu que inaugurei o Panela, obra-prima de Chico Philomeno. Promovi uma noite de gravata preta, com a presença do melhor do melhor, inclusive o Rubens Costa, que, contra a sua vontade, estava deixando Banco do Nordeste, onde cumpria brilhante gestão, pelo BNH, numa imposição do grande presidente Médici, transmitida pelo poderoso ministro Delfim Netto.