Vesperal das moças

Um dos cinemas que mais me dão saudade é o Rex, da Rua General Sampaio. Tinha uma sessão diária, às sete da noite, porém a sensação eram as vesperais dos domingos, que reuniam toda a juventude dos arredores. Foi ali que assisti a “Quando Fala o Coração”, único filme que Ingrid Bergman fez com Gregory Peck.

Vesperal das Moças

Ingrid Bergman moveu todos os seus pauzinhos para ser a Maria em Por Quem os Sinos Dobram, uma das duas vezes que contracenou com Gary Cooper, ambas sem muito sucesso, e foi brilhar precisamente naquele filme que nunca a empolgou, Casablanca.

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Em relação a Ingrid Bergman, “Casablanca” trouxe uma peculiaridade, tendo sido o único filme em que ela não contracena com mulher, que, aliás, quase sempre detestava, era, bem dizer, uma fêmea, heterossexual de mão cheia, que só com homem poderia encontrar o prazer.

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Praticamente expulsa pelo Senado, último filme de Ingrid Bergman nos Estados Unidos, em 1948, não fez sucesso. “Sob o Signo do Capricórnio”, em que voltou a contracenar com Joseph Cotten, não agradou nem ao público nem à crítica.

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Quando Ingrid Bergman quase fugida dos Estados Unidos acompanhou o diretor Robert Rosselini e foi morar na Europa, recebeu a visita de Gregory Peck, que a abordou da seguinte maneira: Lá, você era uma rainha, e, aqui, quem é você? A resposta foi: Uma mulher feliz.

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Primeiro Oscar ganho por Ingrid Bergman foi com o clássico “À Meia-Luz", contracenando com dois grandes, Charles Boyer, que quis matá-la, e Joseph Cotten, que a salvou.

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Ingrid Bergman começou nos Estados Unidos muito bem, mas, a seguir, trabalhou em películas que não emplacaram, tais “Os Quatro Filhos de Adão” e “Fúria no Céu”, que foram filmes inexpressivos, de que ninguém se lembra.

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Nos Anos Dourados, alguns dos principais clubes programavam sessão de cinema. O Ideal, às quintas-feiras, para adultos, e aos domingos, sessão infantil. O Líbano, às segundas-feiras, que, quando deixou a Santos Dumont, manteve na nova sede da Tibúrcio Cavalcante. O operador era o filho do presidente José Dummar, e, algumas vezes, eu descia da Dom Luís, onde morava, para ajudá-lo a montar o filme. O rapaz morreu prematuramente do Mal Azul.

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De todos os cinemas de bairro, o que mais me disse respeito foi o Santos Dumont, na Praça da Escola de Cadetes e vizinho ao Cristo Rei. Aliás, era administrado pelo padre Paulino, jesuíta. Tinha a vantagem de ficar bem próximo à rua do meu avô, Sebastião Alves Pereira, Nogueira Acioly, e à de meu pai, onde eu também morava, Gonçalves Ledo. Acho que o prédio permanece igual ao que era, atendendo, ou atendia, a um departamento da Petrobras.

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Bruce Lee protagonizou três longa-metragens que lotaram durante anos os cinemas da Ásia, “Conexão Chinesa”, “Fists of Fury” e “Enter the Dragon”.

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Os cinemas dos bairros acabaram não por causa da televisão, que surgiu muito depois, em 1953, quando quase todos fecharam, porque Luiz Severiano Ribeiro não aceitou o aumento de mais de cem por cento do salário mínimo, promulgado pelo Ministro do Trabalho João Goulart, que o presidente Getúlio aceitou.

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“Rebeca”, com John Fontaine e Lawrence Olivier, dirigidos por Alfred Hithcock, não é apontado pela crítica como um dos maiores, mas entra, tranquilamente, em minha lista dos dez ou até dos cinco mais.

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Martelam que “Casablanca” é meu favorito. Na realidade, foi o maior de todos os tempos, mas, na minha lista particular, tem um segundo encostando na preferência, “O Terceiro Homem”, filme inglês, onde Orson Welles, aparecendo apenas dez minutos, roubou a cena de todo mundo, incluindo aí o ator principal Joseph Cotten.

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Melhor desempenho da grande Bette Davis no cinema ficou por conta de “A Carta”, baseado no conto de Somerset Maugham. E como diretor foi William Wyler, comentou-se na época que a atriz teria tido um caso com o cineasta, durante as filmagens, affair jamais confirmado.

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Ingrid Bergman nunca se relacionou com suas colegas de Hollywood. Cito as duas maiores, Bette Davis e Joan Crawford, que eram estrelas, enquanto a sueca pretendia apenas ser atriz.

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Houve um filme, e logo com Ingrid Bergman, que aqui não passou no circuito. Foi “Saratoga Trunk”, vilmente traduzido no Brasil para “Mulher Exótica”, que só foi levado no cineminha privado da Base Aérea.

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Grandiosa Ingrid Bergman não teve em Casablanca um dos seus melhores desempenhos, tanto que não foi indicada para o Oscar. Seu companheiro, Humphrey Bogart, mereceu a indicação, mas não ganhou a estatueta, conferida, naquele ano, 1943, a José Ferrer, que fez Louis Pasteur.

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Em seu padecimento, mister o câncer de esôfago que logo o levou, Humphrey Bogart recebia todas as tardes para um drink, sendo seu uísque naturalmente cheio d’água. Um dos que não faltavam era Spencer Tracy, que mantinha, na época, um romance com a admirável Katherine Hepburn, que também ia.

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O hall do Diogo era uma beleza, com quatro vitrines anunciando, com fotos, o filme do dia e os próximos. E como a gente entrava e saía pelo mesmo ambiente, os que entravam perguntavam aos que saíam se o filme prestava, antes de adquirir o ingresso. Se a resposta era “é um abacaxi”, significava que a fita não era boa, e assim a gente economizava, deixando para uma próxima vez.

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Ingrid Bergman não pagava os convites que as colunistas de Hollywood lhe mandavam, porque não apreciava essa convivência. A maior delas, Louella Parson, se vingou quando a maravilhosa atriz sueca engravidou do diretor italiano Robert Rosellini. Deu o furo que escandalizou a América.