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PACO COMO ELE É

Meu dileto irmão civil Lustosa da Costa teve a ideia de coletar, entre amigos, pontos de vista sobre este repórter, para seu livro “Um Brasileiro Muito Especial”, lançado no Ideal, com apresentação de Pádua Lopes.

Um deles, Hélio Barros, pincelado a seguir:

Na minha geração, um personagem marcante do Ceará, o tipo inesquecível no estilo da revista “Seleções Reader’s Digest”, chama-se Lúcio Brasileiro. A imagem não é minha, foi-me referida em diferentes ocasiões por amigos comuns, mas abraço-a com convicção.

As escolhas profissionais e os estilos de vida não nos aproximaram. Assim mesmo nunca estivemos longe um do outro. Acompanhei a vida de Lúcio por meio do Lustosa, o amigo-irmão que cultiva a virtude matriarca de agregar amigos, irmãos e filhos, um traço de união revelador e definitivo que Lúcio e eu compartilhamos ao longo da vida, com a consciência de que seríamos sempre amigos distantes, mas irremediavelmente próximos.

Percebi isto, pela primeira vez, na casa de Nicinha e Edmilson Pinheiro, logo após retornar da Alemanha, no início dos anos 60. Lúcio e eu exaltávamos as qualidades de Lustosa, à época o mais promissor cronista político da cidade e preparando o voo nacional que viria a dar em seguida.

O incontido Lúcio mediu forças: “Lustosa é mais amigo meu do que seu, mas ele admira mais você do que a mim”. Em seguida, fez uma longa pausa para refletir sobre a frase, avaliou e concluiu categórico: “Pensei nisto agora, mas é isto mesmo. Somos privilegiados nessa amizade com o Lustosa, mas ele gosta mais de mim e admira mais você.”

Surpreso, não esperava o veredito, fiquei satisfeito com o meu quinhão. Nunca ocorrera antes medir nem pesar amizades, mas aprendi naquele momento uma característica do Lúcio, ele adora formular e estabelecer parâmetros que regem sua própria conduta. Quem conviveu com o Lúcio sabe identificá-lo, na sua inquieta inteligência, como um construtor de frases e categorias, por meio das quais insere os seus personagens na vida cearense. Este é o Lúcio jornalista, para mim um tema que deveria ser explorado como tese, porque revela e explica a sociedade cearense de nossa época. Fica a sugestão aos meus colegas das universidades, para quem dela quiser apropriar-se!

Quando morei no Ceará, até 1976, nunca deixei de encontrar o Brasileiro nos almoços e conversas de altas horas no Iracema Plaza, ou por telefone, confesso hoje, sempre preferindo a aproximação mais com a pessoa do que com o jornalista. O Lúcio-pessoa é ainda mais interessante do que o Lúcio-jornalista. Eu acho. (Aqui dou uma de Lúcio, estabeleço a minha categoria).

Admito que o personagem é indissociável, mas basta conversar para ver que, na intimidade da conversa em petit comité, agiganta-se a figura humana e doce do conversador brilhante, de gestos comedidos. A marca da inteligência instintiva e irônica, que instiga, provoca e pode ser ferina. Mas nada que comprometa a abordagem honesta de quem tem a sabedoria de nunca se levar a sério. Por isso, jamais levanta a voz e quando é preciso se transforma no apaziguador meigo e generoso.

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