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BRASILEIRO POR LÚCIO ALCÂNTARA

Sei, há muito, que o Lúcio se fez Brasileiro ao adotar o sobrenome do Antonio Brasileiro, tio da minha mãe, então um dos donos da “Gazeta de Notícias”, onde iniciava carreira o jovem jornalista. É o que diz a lenda, em indestemida versão. Tio Antonio, sócio do jornal, garantia espaço para expressar suas opiniões em pequenos escritos que assinava com as iniciais A.B. Talvez, fruto do nome, o Lúcio absorvera as esquisitices do meu parente, que fizeram dos dois singulares criaturas.

O que nunca soube é a razão do nome Lúcio, que veio a compor pseudônimo que o acompanharia vida afora. Ele incorporou o que eu perdera. Minha mãe, avessa a nomes longos, resumiu no Alcântara, comum aos dois primos, meus pais, minha procedência filial. Daí ele afirmar, com frequência, ser eu o verdadeiro Lúcio Brasileiro. Sou-o de fato, sem aparentar; e ele aparentando, sem sê-lo. Enigma desdobrado na tripla heteronímia, Newton Cavalcante, guardado nos arquivos notariais e benquerenças familiares; Paco, o personagem do jornalista Lúcio Brasileiro, aqui homenageado.

O Lúcio é exemplo raro de longevidade e contínua militância jornalística exercida no terreno movediço da crônica de poderosos e da notícia de eventos passíveis de afetarem sua independência profissional. Fiel aos amigos, casa com seus personagens, mantendo-os em cena tal qual anuncia o ritual dos casamentos católicos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença… Adapta-se à mudança dos costumes, equilibra-se entre novos e antigos atores; em sua coluna, renova e conserva. É tradicional e inovador.

Mercê de estilo próprio, no conteúdo e na forma, deu consistência e originalidade ao colunismo social, gênero tido por efêmero e frívolo. Dotado de notável poder de síntese, traça perfis e comete análises com grande acuidade. Na frase curta e inteligente, deixa espaço para a perspicácia do leitor interpretar sua intenção. Característica visível nos cinco livros que publicou, todos mistura de memórias e flagrantes sociais, narrados na forma contemporânea dos minicontos tão em voga.

Dono de memória prodigiosa, arquiva informações minuciosas do futebol e da política, que, entre outros atributos, fazem dele um conversador agradável e instigante. Um tipo leve, no seu jargão.

Leitor assíduo, amparado em extensa e confiável rede de colaboradores, informa muito – e bem. Com circulação virtual, compensa o isolamento decorrente de certa reclusão a que se impôs. Frequenta também o Rádio e a Televisão, mas considero seu forte o Jornal.

É comum ouvirem-se reparos ao fato de restringir seu foco noticioso a um universo restrito de pessoas e cenários. Não obstante, levantamentos confiáveis apontam sua ampla penetração junto aos leitores, distribuídos entre as diversas classes sociais. Colecionador de êxitos permanentes, não deixaria de despertar inveja e desafeições. Nunca o vi queixar-se dos críticos anônimos ou conhecidos, difusores de infâmias inspiradas no ressentimento e na frustração. Obstinado, persegue determinado seus objetivos, sem renunciar a bizarrices e idiossincrasias.

Irrequieto, o convívio com ele é animado e estimulante. Não raro, surpreendente, tal seus extemporâneos sumiços. Disso provamos, Maria Beatriz e eu, em companhia de casais amigos, em inesquecível temporada no chão e águas do Quixadá, acolhidos pelos insuperáveis anfitriões Nicinha e Edmilson Pinheiro.

Lúcio, o Guiness pode lhe dar galardão do recorde temporal da faina jornalística, mas do seu mérito profissional e valor humano, dizemos nós seus amigos e admiradores.

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