Primeira Página

BRASILEIRO POR GUILHERME NETO

BRASILEIRO NA PRAIA DE IRACEMA

Quando Hélio Guedes se desentendeu com a administração do Excelsior Hotel, onde residia, juntou-se a Luiz Costa, seu vizinho, e alugaram e mobiliaram a casa número 917 da Presidente Kennedy. Ali nasceu a Mansão dos Inocentes, assim chamada em homenagem às crianças que acompanhavam uma professorinha que se utilizava do telefone de Hélio Guedes. Depois, em virtude das reuniões amiudadas que os sócios da Mansão promoviam. Mestre Hélio se mudou para o prédio número 1098 da mesma avenida.

A Praia de Iracema já atraía boêmios de grande porte. Inicialmente, foram os pilotos do Aeroclube do Ceará e alguns aviadores militares. Quando menos se esperava, eram sócios da Mansão dos Inocentes Ciro Moreira, vice-presidente, José Monteiro e Valmir Magalhães, como primeiro e segundo secretários. E os sócios eram muitos: Luciano Carneiro, Albano Amora, Aurilo Gurgel, Clezer Chaves, Clóvis Maia, Erivan Chaves, Belarmino Maia, Ubirajara Chaves, Raimundo Pinto e os irmãos Sucupira, Paulo, Maurício, César e Rubens, além de outros, todos gente muito boa, aos quais se juntaram Cleanto Camarão, Roderico Braga, Elzir Cabral, José Walter Cavalcante e Júlio Rego. E baixavam por ali os violonistas Jacques Shalmann, Aleardo Freitas, Tinoco e Germano Riquet, além de cantores, seresteiros, profissionais e amadores, todos querendo o bem comum da amizade sem igual do pessoal da Mansão dos Inocentes.

Dos três coqueiros reais, nem sei se resta algum após o embelezamento que Juraci Magalhães proporcionou à Praia de Iracema. Dos homens que fizeram daquele espaço uma festa sadia e inesquecível. Boêmio vivo, apenas o Mestre Hélio Guedes Pereira, ainda dirigindo a Mansão dos Inocentes, que acaba de comemorar quarenta e quatro anos de atividades, agora com sede na Carlos Vasconcelos, 2140. O grande Fernando Pinto já nos deixou, e o seu Jangada Clube não existe mais. Aurilo Gurgel, nunca esquecido, vivo junto aos seus amigos na Casa do Mincharia, uma espécie de templo no qual se cultua a boa amizade e a alegria descompromissada do imortal boêmio.

Disse das três casas e não falei da Torre de Iracema. Lúcio Brasileiro chegara ao Iracema Plaza Hotel para passar uma semana, quinze dias, talvez. Foi ficando e ficou por um quarto de século ou mais. A Torre, cobertura do edifício, marcou época. Poderia dizer dele e de seu dono, Lúcio Brasileiro, um mundo de boas palavras. Mas a Torre pairava bem acima das nossas ilusões de vida solta. Tinha um charme inigualável, um toque de encantamento que nos prendia e nos punha em harmonia com a vida, por mais difícil que ela nos parecesse no instante. Era um pessoal diferente o que por ali passava em acontecimentos verdadeiramente marcantes. Eu tive a graça de ter estado algumas vezes no Jangada Clube, muitas vezes na Maloca do Guará, inúmeras vezes na Torre do Iracema e de continuar indo, sempre que possível, à Mansão dos Inocentes, onde encontro tantos que hei encontrado, vezes sem fim, nas outras acolhedoras casas.

A Praia de Iracema tem magias insuspeitadas em suas manhãs, tardes, noites e madrugadas, nas horas mágicas que fazem da vida uma festa de amizade permanente entre os homens.

(Do livro Um Brasileiro Muito Especial, de Lustosa da Costa)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *