Entrevista

Os Sem Ceará – Wilson Ibiapina

Nós, aqui em Brasília, ou em qualquer outro lugar, não esquecemos o nosso Estado. Bairrismo é pouco para qualificar o que sentimos por morar longe do Ceará. Assim como existem os “Sem Terra”, os “Sem Teto”, o escritor Adirson Vasconcelos nos batizou de “Os Sem Ceará”. Os judeus criaram o Sefaradi, a pátria dos desgarrados, um país imaginário para lembrar suas origens. Nós sabemos onde está nosso torrão. Não é fácil voltar. O pernambucano Nelson Rodrigues definiu num artigo a singularidade do cearense: “Viajar é um gesto temeroso, pois o viajante perde sua identidade e não adquire a nova do lugar para onde vai. O sujeito que viaja deixa de ser o homem da rua, de seu bairro, de sua cidade. Assim, o carioca, o paulista, o gaúcho se descarioquiza, se despaulistiza e desgauchiza ao cruzar a fronteira de seu Estado, de seu país. A única exceção é o cearense”. Não esquecemos a terrinha. Trazemos o Ceará marcado a fogo na alma de cada um de nós. Em 1977, o compositor Humberto Teixeira, em entrevista a Miguel Ângelo de Azevedo, o pesquisador Nirez, afirmou que ser cearense fora do Ceará é viver em estado de exaltação perene. Em qualquer outro lugar, quando bate a saudade, a gente pensa no Ceará antes de pensar no país. O poeta Artur Benevides dizia que “o nome Ceará está em cada um de nós como um sinal de sangue, sonho e sol”. Nós saímos do Ceará, mas o Ceará não sai de nós.

Entrevista para o blog de Lúcio Brasileiro.

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