Estórias com E

Meu amigo Raul Carneiro e eu cortávamos o cabelo no mesmo salão, e, após passar por um AVC, numa tarde ele me disse: “Desta vez, será mesmo o meu fim.” Não deixei continuar, acentuando: “Raul, quem tem a história que você tem para contar não pode se expressar assim.” E ele: “Você sempre fala nesse assunto que eu nem sei se realmente aconteceu.”

Estórias com E

Na primeira posse de Virgílio Távora no Governo do Estado (1963), reparei que o senador Arnon de Mello, pai do Fernando Collor, estava se retirando do banquete realizado no Náutico, que eu organizava. Fui atrás dele e perguntei-lhe por quê. Respondeu claramente que o lugar que lhe fora destinado não estava à altura de sua condição parlamentar. Então, apelei: Senador, se o senhor não ficar, perderei meu emprego, pois o Governador não vai me perdoar. Ele voltou e sentou.

Estórias com E

Cearense não se cria. Lembro que quando entrei em jornal, para escrever a coluna da Gazeta, em 1955, ouvia murmurarem, no Country Club, que Omar O’Grady, que se havia transferido para o Rio, tinha comprado um faustoso apartamento próximo ao Copacabana Palace, apesar de sua construtora não ir bem das pernas. Pouco tempo depois, conheci a tal morada, que era um simples três quartos de classe média, que qualquer funcionário público poderia ter.

Estórias com E

Um dos maiores acontecimentos de Barcelona é o Parque Guell, produzido pelo grande arquiteto Gaudi, às expensas do Conde (Guell), que ali morava. O visitante é levado a tomar um susto, pois tudo é desconforme, faltando simetria, o que torna local extraordinariamente diferente. Tenho mostrado ambiente em questão a companheiros de vilegiatura, podendo citar Armenuhí Boyadjian e Paulo Sérgio Santa Cruz, além da saudosa Anita Cavalcanti, que se deliciaram.

Estórias com E

Embora completamente verdadeira, a frase que o jornalista cearense Luiz Edgar de Andrade espalhou pelo país inteiro, “o Brasil não é um país sério”, jamais foi dita pelo Presidente da França, general De Gaulle, na verdade partiu, e o repórter confundiu, do embaixador do Brasil em Paris, Sérgio Correia.

Estórias com E

Logo após a Revolução de 64, que botou pra correr indeciso presidente Jango, Carlos Lacerda veio ao Ceará e foi entrevistado, na televisão, pelo próprio Eduardo Campos, que perguntou: Que acha da imprensa brasileira? Lacerda respondeu com outra pergunta: A que tipo de jornalista você se refere, Manuelito, àquele que pega a notícia e dá ao público ou àquele que recebe propina para elogiar A ou denegrir B?

Estórias com E

Frequentador de minha cobertura no Iracema Plaza, Edson Queiroz aplaudiu minha criação para aplacar o calor reinante lá em cima, barra de gelo sobre a placa, aliviando o ambiente.

Estórias com E

Carlos Alberto, que foi uma das perdas do ano passado, foi o Capitão da Seleção de 1970, última que o Brasil ganhou jogando que prestasse. Tive o prazer de recebê-lo para jantar em meu apartamento da Torre do Iracema, quando foi abordado o fato de a medonha esquerda brasileira nunca o ter perdoado de, ao consignar quarto gol da final, haver dedicado ao presidente Médici, que havia apontado exatos 4x1 na enquete.

Estórias com E

Para se ter uma ideia da importância que o Brasil devotou à eleição de Martha Rocha pra vice-Miss Universo, nos Estados Unidos, basta se contar que o nome da baiana foi sugerido para disputar a Presidência da República contra o mineiro Juscelino Kubitschek.

Estórias com E

Tem aquela tão bem contada por Nelson Rodrigues, que o novo-rico levou a mulher para conhecer o Maracanã, e quando o jogo começou, ela perguntou ao marido: Oh, meu bem, qual é a bola?

Estórias com E

Abelardo Costa Lima, que foi deputado e chegou à Presidência da Assembleia, ensejou muitas das minhas idas a Majorlândia, na fase pré Paulo Afonso, junto com outros companheiros jornalistas, dos quais me recordo de Pádua Lopes, Frota Neto, José Rangel, Giácomo Mastroianni e Otacílio Colares, esses três últimos já convocados pelo Superior.

Estórias com E

Os Bloch, criadores da extinta revista “Manchete”, tinham chegado ao Brasil procedentes de miseráveis regiões da Ucrânia. Não sabiam nem se comportar à mesa, inclusive um deles, Boris Bloch, dispensava o uso de talheres, usando apenas as mãos.

Estórias com E

Esta é do Al Capone e muito aplicável nos dias que correm, sobretudo, no Brasil: Pior que um ladrão é um ladrão em cargo público.

Estórias com E

Getúlio Vargas nunca se hospedou na casa do coronel Zegentil, porém, sim, na de seu filho João, localizada mais pro sul da Avenida João Pessoa. Quem ficou na atual Reitoria da Universidade Federal foi Tancredo Neves, primeiro ministro em 1961, tendo pernoitado nos aposentos anteriormente ocupados por dona Melinha e seu marido, e quando este partiu, por “seu” João e dona Sarah.

Estórias com E

O Rei da Pimenta Malagueta, Nereu Aguiar, é bisneto do lendário coronel Zegentil e neto de Belisa, dizem que filha favorita da Primeira-Dama do Benfica, dona Melinha Frota. Entre outras vantagens nutritivas, Nereu desmente que o picante alimento possa ofender o fígado, a não ser que sorvido exageradamente.

Estórias com E

Consta que o governador mais corrupto do país foi Moisés Lupion, do Paraná. Temendo a cadeia, ele se candidatou, quando deixou o Palácio, ao mesmo tempo a senador, deputado federal e deputado estadual, que então, nos anos 50, podia. O eleitorado lhe ministrou uma lição, perdeu nos três.

Estórias com E

Homenageado pelo PSD Jovem, que foi onde eu conheci o Príncipe da Imprensa, Edilmar Norões, dr. Waldemar de Alcântara, ao agradecer, utilizou as palavras do líder santa-catarinense Nereu Ramos: Não me considero um homem feio, pois tenho a cara que Deus me deu.

Estórias com E

Os Bloch, que fizeram uma pequena fábrica de tinta virar uma revista, a Manchete, tinham chegado ao Brasil paupérrimos, os irmãos brigavam muito entre si, e um deles, o Boris, segundo sua própria mulher, passava a semana bolando qual seria a melhor maneira de matar o líder, Adolpho, considerado um dos piores patrões que a imprensa brasileira já teve.

Estórias com E

Na esculhambação que era o Governo João Goulart, pressionados pela opinião pública, pois 600 mil foram às ruas de São Paulo pedir a cabeça do Presidente e do seu cunhado Brizola, se a esquerda tivesse ganhado, havia uma lista de personalidades que seriam fuziladas, começando por donos de jornais, tais Roberto Marinho e Júlio Mesquita, e Chateaubriand só escaparia por estar em cadeira de rodas.

Estórias com E

Maior exemplo já havido de seriedade foi dado pelos irmãos João e Antônio da Frota Gentil, que, quando venderam o Banco Frota, ficaram sem casa pra morar. O primeiro alugou apartamento de dois quartos, no Rio, de modo que nem podia abrigar os netos que moravam com ele, Sandra e Jody, um em cada quarto, tiveram de ficar os dois juntos, enquanto o segundo foi viver em casa cedida pela filha Helena, que tinha casado com o bem situado, mas ainda não rico, Francisco (Chicão) Jereissati.