As danações

Apesar de homossexual, Cole Porter casou-se com uma mulher chamada Linda, que, quando ele descasou, mandou-se pra Europa, para só voltar a Nova York quando o grande compositor teve de amputar uma perna, após uma queda de cavalo. Depois teve de cortar a outra, e morreu muito mal, evitado pelos amigos, que não suportavam mais seus pileques.

Primeira Página

BRASILEIRO POR PAULO ARAGÃO UM TIPO INESQUECÍVEL Se um dia tivesse que escrever minhas memórias, certamente parte delas seria dedicada aos amigos mais marcantes dessa existência. E, certamente também, estaria nesse rol, nos dedos da primeira mão, o cidadão Paco, o Francisco, o Lúcio Brasileiro que (quase) todos conhecemos. Cidadão exemplar, de memória prodigiosa e profissional competentíssimo (é o maior gazeteiro do jornal em que escreve, apesar de um paulista pouco afeito a marketing não perceber, que, no frigir dos ovos, é o Brasileiro que paga seu salário - coitado!). Amigo do tipo que só se acha à luz de vela, caridoso e amante da boa mesa e do bem conversar. Enfim, um homem bom e surpreendente. Do meu duas vezes conterrâneo (Cajazeiras e Sobral) e xará Francisco Lustosa da Costa, recebi o honroso convite para escrever algo a respeito do aurorense em questão. Permito-me, assim, para não tornar a leitura um rosário de elogios merecidos, narrar apenas três episódios que com ele vivenciei, hilários e, portanto, perfeitos como homenagem ao seu constante bom-humor. ESTRELA DESCONHECIDA Numa segunda-feira de Carnaval, saídos do nosso Cumbuco, tomamos a Via Estruturante em demanda da praia de Flexeiras, para encontrar nosso amigo Ivens Júnior, que emprestara a casa de seu cunhado e veraneava por lá. Pelo meio do trajeto, fomos parados por uma blitz rodoviária, com o policial me pedindo os documentos do carro. Exibi-os. Em seguida, solicitou-me a carteira de habilitação. Falei que estava dentro de minha pasta, no porta-malas do carro, e perguntei, por comodismo, se seria necessária mesmo a exibição de tal documento. Nesse momento, o Brasileiro, certo de que eu não estava com a tal carteira, e confiando no seu bom "ibope" de apresentador de televisão, retira os imensos óculos escuros que usava, volta o rosto para o guarda e diz, vagarosa e solenemente (na esperança de ser reconhecido). – Senhor, temos um compromisso jornalístico urgente. Será que poderia dispensar o meu amigo de ir abrir o porta-malas e a pasta e deixar-nos seguir? Pedido negado. Desci do carro, abri o porta-malas, retirei a habilitação de dentro da pasta e satisfiz a exigência da autoridade, que, antes de sairmos, disse para o Lúcio: – Tenha uma boa viagem... E ponha os óculos porque o sol está forte e pode lhe causar dor de cabeça. CAIXA FURADO Há alguns anos, num sábado e na praia do Cumbuco, fui ao Restaurante Ugarte, propriedade do Brasileiro. Em lá chegando, minha mulher Odete e eu vimos apenas um casal, que logo se retirou sem fazer qualquer pedido, deixando-nos como únicos clientes da noite. Isso, para qualquer dono de restaurante, seria a morte. Não para nosso querido louco (como já disse o Senador José Macêdo, por ter aberto um restaurante distante de Fortaleza), que, quando viu o garçom trazer à nossa mesa um litro de Black and White, criou alma nova e veio ter conosco. Os três bebemos e papeamos a noite inteira. Fui deixá-lo em casa já dia. Por volta de meio-dia, nosso herói, curtindo ressaca olímpica, foi acordado para a prestação de contas do dia anterior. De muito mau humor e cefaleia latejante, verberou ao empregado: – Já disse a vocês para não me acordarem no domingo, a não ser que não haja dinheiro no caixa. Cadê o dinheiro da conta do Paulo Aragão? Ao que o serviçal respondeu: – Pois é, seu Lúcio, aquele litro de whiski, o Dr. Paulo já tinha deixado pago no sábado passado. Nós "tamo furado". ÍNDIO DESCALÇO Numa de suas empreitadas, que o vulgo chamaria de alucinações, resolveu que alguns de seus amigos apadrinharíamos índios da tribo dos Carambolas, habitantes das cercanias do Cumbuco, povo de muito boa índole. A mim, coube como afilhado o senhor Deni, rapaz muito simpático que até hoje me saúda por padrinho (mesmo já se tendo passado mais de dez anos do contato inicial). Todo final de ano, como sói acontecer, Odete e eu enviamos ao nosso afilhado prendas natalinas, que sempre foram representadas por cadernos, tênis, mochilas... numa única vez, uma bicicleta integrou essa relação. Num determinado Natal, tive que me ausentar de Fortaleza (viajei ao exterior) e disse ao Brasileiro que as prendas do ano (calça, camisa, caderno e tênis), eu as traria de viagem. Dito e feito: mandei-as para que ele fizesse o repasse ao beneficiário final. Decorrido algum tempo, eis que me encontro com o "Brasilha". Então, pergunto: – Como é que foi, meu afilhado gostou dos presentes que lhe mandei? E do tênis, o que ele falou? E o nosso personagem não titubeou: – Que índio que nada! Aquele tênis é muito chique. Tô usando para fazer aeróbica! (Do livro Um Brasileiro Muito Especial, de Lustosa da Costa)

Cinema de véspera

Quando se soube, em Hollywood, que a atriz Lauren Bacall tinha traído o marido, e logo com Frank Sinatra, uma amiga lhe perguntou: Como é que uma mulher tem coragem de trair um homem como Bogart? E a resposta: Eu também pensava assim, até que aconteceu.

Apanhado político

Nomeado para o super Ministério da Viação e Obras Públicas, Virgílio Távora veio pela primeira vez ao Ceará e reuniu seus comandos. Era um mundo, RVC, DNOCS, DNOS, DCT, DNER... O pessoal foi pego de surpresa, pois ele abriu o encontro perguntando: Os senhores acham que eu sou um grande ministro? Ninguém respondeu, ensejando VT estabelecer: Tomo o silêncio como uma afirmativa.

Palpite

As almas infelizes envelhecem cedo. (Camilo Castelo Branco)

Pergunte a quem tem Lúcio

Até que hora se pode desejar bom dia? Não existe nenhuma regra pré-estabelecida nessa questão. Assim, mais ou menos como uma diretriz informal, apontarei o meio-dia.

Apanhado

O embaixador Gilberto Amado, que falava onze línguas e tinha sólidos conhecimentos do hebraico, quando Getúlio Vargas lhe inquiriu por que fazia tanta questão de governar Sergipe: Para roubar, Presidente, para roubar e roubar muito.

SOS-Hemo

Portadores de hemorroidas precisam se valer de alimentos bem aceitos pelo fígado, tais repolho, brócolis e couve-de-bruxelas.

Ilustradas

Marcela Marques e Armenuhí Boyadjian, no quiosque de Santa Cruz.

Primeira Página

Legenda Pedro Philomeno participava, de segunda a sexta, de roda de amigos na porta da Livraria Francesa, no Centro da cidade. Quando encerrava, ele tomava no pé dois, pela Guilherme Rocha, o rumo de sua casa, em Jacarecanga. Um dia, deu uma neblina, e ele pegou um carro de praça, ao chegar ao destino, perguntou o preço da corrida. E então deu uma cédula ao motorista e ficou esperando o troco, porém o motorista reagiu. "Seu" Pedro, o Chico, filho do senhor, quando faz esse percurso, deixa o troco comigo. Explicação do milionário: É que ele é filho de rico e eu não sou.

Bola rolando

Não é difícil estabelecer qual foi a maior Seleção Brasileira campeã do mundo, se a de 58, na Suécia, ou a de 70, no México, pois essa última ganha fácil, comportando sete craques, Carlos Alberto, Clodoaldo, Jair, Gerson, Tostão, Pelé, Rivelino, enquanto a anterior escalava cinco apenas razoáveis, Di Sordi, Belini, Orlando, Vavá e Zagallo.

Dicionário brasileiro

“Biribau” é como decidi chamar o grupo social processador do verde, quer dizer, de senhoras que sabem perfeitamente que as cartas não mentem jamais.

Palpite

Um artista é um sonhador que consente em sonhar o mundo real. (G. Santayana)

Ilustradas

Autografando “500 Contos de Réis” pro livreiro Sérgio Braga no Estoril de Iracema.

Disseram

Esta é de Oscar Wilde: Gosto popular, ora, se tem uma coisa que não pode ser popular é o gosto, que é produto da educação.

As penas do obeso

Gordofobia é aversão ao corpo do outro que está gordo. Resulta em terríveis danos, como a desvalorização, estigmatização e até hostilização da sociedade a quem passa da conta na balança.

Vã filosofia

Chegando a uma festa, nunca venha com esta de “só vim porque era você”, pois o anfitriolo vai pensar que você está querendo valorizar sua presença.

De caridade

O chá de limão incide favoravelmente no combate à desagrabilíssima caspa.

Primeira Página

Sim, é Verdade, para gáudio dos amigos, Domar Pessoa, após tempão, reapareceu no Ideal, formando com Leônidas Guimarães e Olavo Araújo na mesa do Firmo de Castro. Sim, é Verdade, pondo conversa em dia no Dom Antunes da Varjota, Lia Macêdo, Sílvia Bastos, Luciene Beviláqua, Lêda Castelar. Sim, é Verdade, Mônica Arruda e Betinha Sampaio testemunharam o convescote São Paulo x Ceará, em jantar da última terça. Sim, é Verdade, no Don Pepe, ensejando papo maior que uma tarde inteira, engenheiro Sérgio Ferreira e advogado Nilo Benevides. Sim, é Verdade, pandemia privando pessoal do Colóquio de Camocim, mais um ano, do belo luar de agosto.

Palpite

Se comermos menos, degustaremos mais. (Ditado chinês)