Categoria: Depoimento

Não se pode fumar num banquete, única exceção foi aberta no oferecido pela Associação Brasileira de Imprensa a Getúlio Vargas quando, após o licor, foram distribuídos charutos que o Presidente fumava, e não poderia fazê-lo sozinho.

Guardei na retina a imagem do grande Luís Gentil chegando fim da tarde de domingo ao Ideal, após a missa, e subindo direto pela escada, hoje não mais existente, que dava acesso ao Cassino.

O Cine Rex, na General Sampaio, foi provavelmente o cinema de minha geração, e lá assisti a meu primeiro filme com Ingrid Bergman, “Quando Fala o Coração”, em que contracena com Gregory Peck, senduvidamente o mais charmoso dos canastrões.

Carlos Lacerda só conseguiu ser eleito porque eram quatro candidatos, que dividiram a votação daqueles que não queriam maior governador que o Brasil já teve.

É equivocado se dizer que Esmerino Arruda perdeu seus direitos políticos em 1964, o cearense de Granja jamais foi cassado, apenas na primeira eleição após o Movimento, lhe foi negada a legenda na Arena, partido do Governo que assumira.

Bem antes de 64, em roda de jornalistas no Rio, meu inesquecível amigo Esmerino Arruda propagava a coincidência de todos os mandatos federais, e perguntado quem ele sugeria para Presidente da República na interinidade, apontou: General Castelo Branco, por sinal, que foi quem assumiu, na derrubada de João Goulart.

Saudoso Zenilo Almada hospedou dom Helder Câmara e me chamou para conversar com arcebispo de Olinda e Recife, que não gostou nada, quando eu abordei o assunto Carlos Lacerda, que declarara certa feita, “dom Helder rega a pobreza como rega folhas de alface”.

Eu estava no apartamento de Virgílio Távora, na Princesa Isabel, éramos uns quatro cearenses e resolvemos ir ao Maracanã, assistir a Vasco X Santos, com Pelé e tudo. Dona Luíza prontamente ofereceu nos mandar levar e trazer e dentro da simplicidade característica do casal, tratava-se de um Simca de terceira mão.

Logo após a eclosão de 1964, em jantar em minha casa do Iracema, deputados do PSD se aproximaram de José Carneiro da Silveira, querendo saber que se seu amigo maior, Waldemar de Alcântara, que por sinal estava presente, saísse candidato a Governador, contaria com o imobiliardário em questão. Resposta: O Waldemar é como um irmão e sabe que conta comigo. Mas, vocês não pensem que a eleição vai ser como tem sido até agora. Acertou na mosca, pois Plácido Castelo, embora eleito pela Assembleia, foi escolhido pelos brasileiros fardados.

No alvorecer da campanha de 1962, levado pelo Aquiles Peres Mota, participei de uma reunião em casa de Adahil Barreto, candidato da UDN, que teria saído governador se não surgisse a União Pelo Ceará, que lançou Virgílio Távora, e aí então a festa acabou. Adail ainda disputou sem chance, porém manteve sua cadeira de deputado federal, da qual foi injustamente alijado pela Revolução.

Num almoço em casa do deputado Flávio Marcílio, um veterano da roda insultou um novato que estreava, cuja reação foi brilhante: Adorei a grosseria que você acaba de me fazer, pois corre que você só ofende quando aceita a pessoa na roda, então quer dizer que sou aceito na sua.

José Macêdo (eleito) ofereceu sua cadeira para o Armando Falcão (suplente) assumir. Falcão, com toda dignidade, agradeceu o gesto, mas não aceitou, pois o eleitorado não me pôs entre os escolhidos.

Dois presidentes de clubes pequenos foram grandes, Francisco de Melo Arruda, o Arrudinha, que sediou o primeiro baile da Glamour-Girl, trazendo o mais famoso cronista social da época, Jacinto de Thormes, para entregar a faixa, e José Cláudio Oliveira, do Comercial.

Coube a dois cearenses ocupar o Ministério mais poderoso da República, depois, naturalmente, da Fazenda, Viação e Obras Públicas, Virgílio Távora, no Parlamentarismo de Tancredo Neves, e Expedito Machado, na Presidência Goulart. Tão forte, que a Revolução de 64 transformou em vários, entre eles, Interior e Comunicação.

Disputando a deputação federal em 1966, Lustosa da Costa procurou Edson Queiroz, pra assinar o Livro de Ouro da campanha, que após fazer a doação adjuntou: Poderia ser diferente, porém acontece que não acredito em sua candidatura, mas na hora que você próprio acreditar, pode voltar, que darei mais. O jornalista nunca voltou, e na hora da contagem final, faltou o que a generosidade do empresário completaria.

Quando Pádua Campos, exemplo de seriedade na imprensa, deixou O POVO, Paulo Sarasate me convidou para assumir a coluna Política, acontece que eu ia muito bem, com a minha de assuntos variados, e por essa razão não pude aceitar o honroso chamado.

Homem típico de sociedade, pois frequentava bem, sabia trajar e agradável conversador, meu amigo Vicente Souza uma vez me contrariou seriamente, quando não permitiu que a filha Fernanda Parente, representante do Ideal, que vencera, no Náutico, o Miss Bangu, fosse ao Rio disputar, no Copacabana Palace, o desfecho. Ela já partiu, mas nunca perdi a convicção de que seria, no mínimo, uma das cinco finalistas.

Vicente Souza foi um dos cavalheiros mais elegantes que eu conheci em sociedade, amigo de Manoel Porto, e secretário do Ideal, nos 250. Foi pai da primeira Glamour-Girl, Fernanda Parente, que recebeu faixa de Jacinto de Thormes, no Centro Massapeense do grande Arrudinha, que inaugurava.

Primeiro Gala dos Solteiros, criação deste repórter, aconteceu em 1968, em casa de Paul Mattei, na Volta da Jurema, e com apenas cinco protagonistas anfitriolos, além de mim e do Paul, Josué de Castro, Eugênio Porto e João Gentil, dos quais três sobrevivem, Eno, Josué e eu.

Corria o ano de 1958, eu estava no palanque, em Sobral, no fecho da campanha de Virgílio Távora para Governador, e se não fosse tão garoto, poderia perfeitamente ter tomado o comício como uma antevisão da derrota. Pois VT não conseguiu transmitir ao público, por sinal, pequeno, sua mensagem desenvolvimentista, e o próprio padre Palhano, que não era um grande orador, porém agradava, desta vez, não empolgou.