Categoria: Apanhado político

Flávio Marcílio estava nos Estados Unidos, em revisão do seu problema de saúde, quando soube por seu amigo maior, industrial Fernando Gurgel, que havia sobrado da Câmara, por apenas quatro votos. Ele ainda pediu revisão, e a diferença aumentou para 17. Quatro anos depois, se despedia melancolicamente de uma brilhante carreira que incluiu três mandatos de Presidente da Câmara de Deputados, não indo além de uma terceira suplência.

Uma das melhores cabeças da política cearense, Perilo Teixeira, de Itapipoca, foi Constituinte Estadual de 47 e se reelegeu em 50, em 54 chegou à Câmara Federal como terceiro mais votado na coligação, só perdendo para Virgílio Távora e Carlos Jereissati, que estreavam. Ele não mais se elegeria, e em 62 se despediu eleitoralmente, não conseguindo sucesso numa empreitada senatorial, em sublegenda.

De 1946 até hoje, cobrindo 19 legislaturas, Ceará só deu três mulheres na Câmara Federal, Moema São Thiago, em 86, Gorete Pereira, em 06, 10 e 14, Luizianne Lins, 14 e 18.

Ernesto Sabóia teve um mandato de deputado federal, eleito por Sobral e adjacências. Vinha tendo boa atuação, até que se meteu numa tal Lei do Cadilac, pela qual os parlamentares podiam importar o carro mais sofisticado daquele tempo sem pagar as taxas devidas. O projeto, altamente concessionário, foi derrubado pelo Carlos Lacerda, então deputado pela UDN, por sinal, o partido do Ernesto, que no pleito seguinte rodou solenemente, muito talvez por causa disso.

Em 1964, não fazia parte do planejamento dos militares assumir o poder. Derrubar João Goulart era o objetivo, sobretudo depois que 600 mil pessoas ocuparam as ruas de São Paulo, exigindo sua degola. Os brasileiros fardados foram levados ao comando do País face desentendimento das lideranças civis. Se Ademar de Barros e Magalhães Pinto, que realizavam bisonhas administrações em São Paulo e Minas, tivessem formado com Carlos Lacerda, que exercia primoroso governo na Guanabara, a caserna em peso teria dado o seu aval.

Na eleição de 1950, segundo após a queda do presidente Vargas, os candidatos vitoriosos a Governador e a Vice, naquele tempo se votava separado, provinham ambos da bancada federal, Raul Barbosa e Stênio Gomes, que tinham assinado a nova Constituição brasileira.

José Martins Rodrigues teve quatro mandatos de deputado federal, 54, 58, 62, 66. O genro Paes de Andrade obteve o dobro, oito, e o genro-neto, Eunício Oliveira, três, fora o mandato de senador. Teve seus direitos políticos suspensos pelo AI-5, e como não se podia tachá-lo de comunista ou corrupto, calcaram uma nova rubrica, Contestador do Regime, a mesma que pegou Carlos Lacerda.

Olavo Oliveira era considerado o campeão da política cearense e começou a perder essa condição quando decidiu prestigiar o filho Raimundo Ivan, homem sério, idealista e que atuava na meia esquerda, porém não somava nas urnas. Olavo o indicou para Vice-Governador e depois para suplente, numa das três derrotas que marcaram sua retirada da vida pública.

O senador Fernandes Távora teve um mandato de deputado federal, seu filho Virgílio teve três, e o neto Carlos Virgílio teve um, fato não comum na história parlamentar brasileira, isto é, três gerações.

Dr. Leão Sampaio e seu filho Mauro tiveram juntos 11 mandatos de deputado federal, de 1946 a 1994, cobrindo, portanto, meio século de vida parlamentar.

Registrado nos anais pelo menos um caso de pai constituinte da República cujo filho também foi, José de Borba, em 1946, e Aécio, em 1988.

Tendo estreado como vice-prefeito de Fortaleza, e obtido mais tarde três mandatos federais, sendo inclusive presidente nacional de partido, o meu amigo Aécio de Borba deve mais se orgulhar do bicampeonato ibopeano que ganhou, o primeiro, para a Uirapuru, da qual fundador, com Zepessoa, e o segundo, na Dragão do Mar, de Moysés Pimentel, fazendo dupla com Blanchard Girão. E o Degas Aqui, pé-quentíssimo, estava a seu lado nas duas ocasiões.

Dois Constituintes de 47, João de Borba e Osvaldo Studart, tiveram sucessores, mais de 30 anos depois, quando foi promulgada a atual Constituição, Aécio e Paulo.

Quando Costa e Silva reuniu Ministério para tratar da punição ao Congresso, que havia negado licença pra cassar o Márcio Alves, o Presidente deu a palavra pela ordem ao ministro Gama Silva, pois a Pasta da Justiça é a mais antiga. Gama, um ultradireitista de São Paulo, propôs “ferro e fogo”, ensejando a intervenção do ministro da Guerra, Lira Tavares: Assim não, dessa maneira você vai desarrumar a casa toda. Desarrumaram, mas só em parte, com o AI-5.

A campanha do coronel Virgílio, em 1958, em sua única derrota, foi muito mal dirigida, pois o lado de Parsifal propalava o slogan “Havendo Outro, Não Vote em Távora”, os udenistas esqueceram de lembrar que quatro anos antes o senador Fernandes Távora, pai de VT, fora disparadamente o mais votado pro Senado, quer dizer, o eleitorado gostava dos Távora.

José Macêdo foi, por algum tempo, empresário também radiofônico. Aconteceu que o Zepessoa lhe pediu um empréstimo, dando a Uirapuru de garantia. Poucos dias antes, foi ao credor e propôs: Você me dá mais dez mil e a emissora é sua. Talvez sabedor que o amigo não teria condições de honrar, Macêdo não topou. Só que, no vencimento, que caía num domingo, Pessoa foi encontrá-lo numa vaquejada em Quixadá, trazendo um cheque visado do Bradesco, que ele conseguira com o Laudo Natel.

Em 1954, a UDN lançou Paulo Sarasate, porém o PSD não tinha candidato e foi bater na porta de Armando Falcão, que aceitou, mas, sob condição, só se fosse também a deputado. Foi uma disputa pau-a-pau, e durante muito tempo pessedistas garantiram que ganharam e não levaram. Falcão voltou para a Câmara, protagonizando uma polpuda carreira, que lhe fez líder da maioria e Ministro da Justiça do Governo JK.

O gentleman Otávio Guinle, construtor do Copacabana Palace, teve uma vez que não foi. Indo a Portugal, se hospedou no Avenida, cujos donos lhe fizeram a honra, dando-lhe a Suíte Presidencial. E sabe como ele retribuiu? Depois de uma semana, observando e vendo tudo, escolheu os melhores empregados, pôs dentro de um navio e trouxe para o Rio, a fim de reforçar a equipe do Copa. Quem contou a mim e ao Cláudio Aguiar, quando tomávamos uma grapa no bar do Avenida, foi o barmano, naturalmente que não daquele tempo.

Na Espanha, existe a palavra “Almuerzo”, para significar a refeição do meio-dia, entretanto, raramente usada, pois o comum é se dizer “comida”, e quanto ao jantar, sempre “cena”.

Virgílio Távora e Carlos Virgílio tiveram mesmo número de mandatos federais, três. VT teve o primeiro em 1950 e o último em 66, Carlos Virgílio estreou em 82 e fechou carreira em 90. Ele foi eleito duas vezes com o pai vivo e uma já partinte.