Bola passada

Final do Campeonato Sul-Americano de 1959, Brasil enfrentava país sediador, Argentina, que jogava pelo empate. Jogo duro, 1x1 no placar, minuto final, Garrincha dribla o goleiro e, em vez de chutar pra redes inteiramente à disposição, resolveu entrar com bola e tudo. Acontece que, no meio da caminhada, o tempo venceu, o juiz apitou, e o Brasil perdeu o título.

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Flávio Costa foi um grande treinador de clube, porém pouco conseguiu dirigindo a Seleção. Nos anos 40, foi tricampeão pelo Flamengo e três vezes pelo Vasco, sendo dois desses títulos invictos. No escrete, não ganhou nada, pois o próprio Sul-Americano de 49, disputado no Brasil, não pode ser levado a sério, pois a Argentina, que tinha o melhor futebol do mundo, não veio, e o Uruguai mandou um time de estudantes.

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Heleno de Freitas foi o centroavante mais clássico do futebol brasileiro, mais que Leônidas. Quando foi pro Vasco, o clube de São Januário o colocou numa linha onde pontificavam dois craques, Maneca e Ipojucan, mas havia também dois pernas de pau, os ponteiros Nestor e Mário. No intervalo de um jogo, Heleno chegou pro treinador Flávio Costa e esbravejou, apontando os craques, esses dois não me passam a bola porque não querem, e indicando os que não eram, e esses dois, porque não sabem.

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Raí, exemplo de atleta e cidadão, cai no conceito de jogador de clube que não emplaca na Seleção, assim como Zico, do Flamengo, e Dinamite, do Vasco. No Mundial de 1990, era a grande esperança brasileira. Entretanto, só fez um jogo inteiro e acabou substituído pelo Mazinho. E só fez um gol, assim mesmo, de pênalti.

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Brasil gastou horrores com aquela Copa em que terminou levando a maior goleada de um país numa semifinal. Porém, com militar é diferente. Quando presidente, Figueiredo foi procurado pela turma do Havelange, atrás de verba, para o Brasil sediar a Copa de 86, o general respondeu: O importante não é promover Copa, é ganhar a Copa, e saiu do gabinete.

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Na Copa da Argentina, eu estava em Mar del Plata, quando, no último minuto, juiz marcou um córner contra a Suécia, que, batido por Dirceu, foi dar na cabeça do Zico, que fez o gol que seria da vitória. Só que não valeu, pois no transcorrer da bola, entre o pau da bandeirinha e a trave sueca, o tempo acabou.

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Nosso Ademir, jogador elegante, incapaz de uma jogada desleal ou de partir pro juiz, foi o artilheiro do Mundial de 50, que inaugurou o Maracanã. Todavia, se não tivesse marcado um mísero gol, o Brasil teria obtido o mesmo vice-campeonato, como de fato foi. Na hora em que precisou dele, bulhufas.

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Maior centroavante da Copa do Mundo de 1950, aquela da inauguração do Maracanã, foi Miguez, inclusive com primorosa atuação no jogo final contra o Brasil. O ufanismo da crônica esportiva brasileira escala Ademir, que, quando se precisou dele, nada fez, sendo suspeita também a nomeação de Zizinho e Jair, injustamente apontados, enquanto os uruguaios Julio Perez e Schiaffino foram superiores. Apenas um brasileiro figuraria na seleção daquele Mundial, o lateral-direito Bauer.

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Encontrando o Didi, que pouco antes da morte foi homenageado aqui pelo Roberto Farias, ouvi o bicampeão mundial revelar que no jogo com a Hungria, na Copa da Suíça, o grande Castilho tremera, intranquilizando todo o time brasileiro. Era um caso típico de jogador de clube que, entretanto, não emplaca no escrete.

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Na Copa de 50, o melhor time era a Espanha. No jogo com o Brasil, todo mundo estranhou que os ibéricos pareciam estar dormindo em campo. Perderam de seis, e depois se soube a razão do “sucesso” dos brasileiros. O cozinheiro da concentração dera uma patriotada, pondo barbitúrico no almoço dos visitantes.

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Brasil ainda hoje chora perda da Copa de 50, que inaugurou o Maracanã. Acontece que, se o futebol fosse sempre justo, a Seleção nem teria ido para a Final, pois precisava vencer a Iugoslávia, que tinha um time certinho e jogava pelo empate. Acontece que seu principal jogador, o armador Mitic, ao tentar entrar em campo, quebrou a cabeça no túnel do estádio, e a Iugoslávia solicitou adiamento da partida por 15 minutos, para que o time começasse completo. O capitão brasileiro, Augusto, concordou, porém condicionou a aprovação do treinador Flávio Costa, que negou. O resultado é que, quando Mitic começou a jogar, Brasil já havia metido um gol, mas os verdadeiros futebolistas sabem que a Seleção não ganharia esse jogo, se Iugoslávia tivesse jogado, desde o início, com seu onze completo.

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Estive na mesma mesa com Pelé no ainda registrável Hotel dos Reis Magos, em Natal, e ele enfrentava melancolia do final de carreira, porém altaneiramente. Vários assuntos foram abordados, mas, por polidez, evitei trazer o ocorrido no jogo Brasil x França, na Copa de 58, a única vez em que ele marcou três gols em Mundiais. Só que, seu marcador, Jonquet, estava na enfermaria, tendo se quebrado no final do primeiro tempo, e, naquela época, ainda não havia substituição, jogador lesionado deixava seu time com dez. Aliás, a França jogava melhor que o Brasil, que ganhou seu primeiro título injustamente.

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Bola passada O jogador de nome mais aristocrático do futebol brasileiro foi Alfredo Eduardo Mena Barreto de Freitas Noronha, conhecido apenas por Noronha, que eu o conheci pessoalmente em João Pessoa, na Paraíba. Era, aos 32 anos, o mais velho do elenco da Copa de 50, porém só fez uma partida, no empate com a Suíça, no Pacaembu. Formou, com Bauer e Rui, a famosa linha média do São Paulo, seis vezes campeão na década de 40. Teria feito centenário este ano, pois já partiu.

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Bola passada Flávio Costa foi, talvez, o maior treinador do futebol brasileiro, contudo não era um estrategista, nunca soube mudar o rumo do jogo durante a partida. Sua preleção, no intervalo de Brasil x Uruguai, em 1950, foi lamentável, pois não ministrou qualquer orientação segura. A escalação do medíocre Bigode, deixando Nilton Santos na reserva, foi de quem tem muito pouco na cabeça. Com Nilton Santos na lateral esquerda, o grande ponteiro Ghiggia não teria promovido aquele carnaval na segunda metade do tempo final, dado o passe para o primeiro e logo depois metendo o gol da vitória, por sinal, justíssima, do time oriental.

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Bola passada O astro de futebol favorito de Chico Buarque foi o Pagão, de bisonha presença na Seleção, nunca tendo participado de Mundiais. Chegou a formar com Pelé na linha do Santos, porém sua carreira durou pouco. Era um craque indubitável, todavia possuidor de canela de vidro, fator determinante do fim prematuro.

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Só houve um caso de pai e filho defendendo o Brasil em Copas do Mundo. Dois craques excepcionais, em 1938, na Copa da França, Domingos da Guia, considerado o Pelé da defesa, que era titular absoluto, e em 1974, na Alemanha, Ademir, também da Guia, que era reserva, condição que só entrava na cabeça do treinador Zagallo, pois, nesse mesmo Mundial, foram escaladas várias tonteiras, tais Mirandinha e Dirceu

Bola redonda

Bola redonda A Copa do México, em 1970, foi a última que o Brasil ganhou jogando plenamente bem. Foi o Mundial de Carlos Alberto, o Capitão, Clodoaldo, Rivelino, o velho Pelé e, atuando aquém das condições físicas ideais, Gerson e Tostão, o mineiro com problema na retina, deixando para o final o artilheiro Jairzinho. Era um time tão bom, que se deu ao luxo de deixar Paulo César na reserva.

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O que tenho a dizer, se o melhor foi Pelé ou Maradona, é que Maradona deu muito mais à Argentina em Mundiais do que Pelé, a partir de que Pelé nunca deu um Mundial ao Brasil. Dos quatro que jogou, em três quebrou em meio e no primeiro, o de 58, já entrou quebrado, por muito pouco não tendo viajado pra Suécia, enquanto Maradona teve, a seu crédito, a Copa de 86 e a vice de 90, e teria dado também a de 94 dos Estados Unidos, se Havellange não tivesse posto ele pra fora de campo.

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No jogo de botão, antes de Nilton Santos se consagrar, a lateral esquerda (na época se dizia half) era destinada ao botão mais chinfrim. Depois, passou a ser um dos melhores do time, aquele que a gente amparava cuidadosamente com a gilete do pai.

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Foi o Expedito Machado, então deputado estadual, quem salvou o futebol cearense de apagar. Falo literalmente, pois foi ele quem iluminou o Presidente Vargas. E conseguiu movimentar o campeonato, que andava muito por baixo. Pena que tenha desaparecido toda reportagem esportiva da época, tais Jaime Rodrigues, Ivan Lima, Paulo Santos, Palmeira Guimarães, mas vivo ainda está o Aécio de Borba, que poderá atestar.