Categoria: Apanhado político

Samuel Wainer tinha por hábito sair da boate Jirau e baixar em São Cristóvão, para pautar o editorial de seu jornal Última Hora do dia seguinte. Levava sempre Paulo Francis, um dos seus escribas, que conta que, numa madrugada, se depararam com um grupo de garotos descamisados, porém felizes, chutando uma bola de meia, e então teria dito: Eles pedem tão pouco...

Nem todos sabem que o grande médico humanista Pontes Neto foi presidente da Assembleia. Aconteceu quando Parsifal Barroso era governador, mas não posso garantir se ele assumiu ou não a Chefia do Executivo. Me parece que não.

Da primeira vez que entrou na Prefeitura, Juraci foi bem, aliás, muito bem, ressaltando os terminais de ônibus. Na volta, entretanto, por motivo que não nos compete comentar, não se saiu airosamente. Se merece frequentar a lista dos cinco melhores, será pelo mandato inicial, quando substituiu Ciro Gomes.

Paes de Andrade e Jorge Furtado Leite tiveram igual número de mandatos federais, oito. Dependendo do critério, o desempate pode beneficiar um ou outro. Paes atingiu a Presidência da Câmara, enquanto Furtado Leite foi apenas Secretário. Paes teve também duas eleições pra estadual, Furtado Leite nunca concorreu à Assembleia. Agora, enquanto Paes perdeu uma eleição, Furtado Leite terminou invicto. No cômputo geral, Paes teve mais votos.

Murillo Borges foi um candidato pesado, que não era fácil carregar, deve muito sua eleição ao Aécio de Borba, que esquematizou sua campanha. Acabou sendo eleito com os votos da classe média, enfrentando dois candidatos aparentemente mais fortes, o populista Péricles Moreira da Rocha e o esquerdista Moura Beleza, primeiro de um resultado que refletiu empate técnico. Murillo é apontado como um dos cinco maiores prefeitos que Fortaleza já teve.

Raul Carneiro, que empresarialmente se fez representando automóvel, entrou na política por injunção do cunhado Carlos Jereissati, a quem admirava, teve um mandato estadual e, a seguir, federal. A partida prematura de Jereissati arrefeceu seu entusiasmo, não mais se candidatando.

Audísio Pinheiro foi um homem de negócio que se candidatou obtendo um mandato de deputado federal, em 1962. Tive o prazer de, junto a Lustosa da Costa, fazer assessoria de imprensa para esse grande empresário, um dos maiores que tivemos, chegando mesmo a enfrentar, com seu Cotonifício Leite Barbosa, a indústria têxtil paulista.

Para poder retirar José Martins Rodrigues do cenário político, já que deputado federal, os militares criaram um terceiro fator de suspensão, qual seja, confrontagem com o Regime, pois ele não era subversivo e muito menos corrupto, mesmo critério usado para abater outro grande, Carlos Lacerda.

José Macêdo teve três eleições para deputado, sempre com folga de votos. Porém, se nunca frequentou a rabeira, teve cuidado de não aparecer nas primeiras colocações. Nunca revelou muita vocação política, todavia devemos lhe fazer justiça, fez tudo pra não ser, tendo tentado primeiro o ex-governador Raul Barbosa e, depois, o próprio irmão, Antônio, que morreu poucos dias antes do pleito, só então resolveu entrar.

Quando Virgílio Távora, ouvindo seu partido, escolheu Acrísio Moreira da Rocha para seu companheiro de chapa, na eleição de 1958, esqueceu que os Moreira da Rocha eram minoria em Fortaleza e que Acrísio tinha sido duas vezes prefeito apenas porque o terceiro candidato dividiu os votos contra ele. Tanto que Acrísio recusou o apoio da UDN, em 1954, e exigiu, para apoiar o candidato a Governador, Paulo Sarasate, que lançasse um nome para Prefeito, que foi Raimundo Girão. Esse estratagema impediu a eleição do prof. Ari de Sá Cavalcante, apontado pelo PSD.

Crisanto Figueiredo era da Casa Militar da Presidência da República e reuniu jornalistas, a quem comunicou que o presidente João Goulart não apoiaria Juscelino Kubitschek, pois pesquisa oficial tinha aferido que Lacerda ganharia de JK até em Minas Gerais.

Péricles (Pekim) Moreira da Rocha foi único caso meu conhecido de presidente da Assembleia que renunciou. Incompatibilizado com o governador Raul Barbosa, logo que eleito para comandar Poder Legislativo, desistiu da empreitada sem nunca haver explicado suficientemente as razões do gesto de abandono. Ele teve quatro mandatos de deputado estadual, sempre por Fortaleza, e mais especialmente por Lagoa Redonda.

Castello Branco, um dos três maiores presidentes do Brasil, sendo os outros dois Médici e Getúlio Vargas, ainda não está no céu, penso eu. Padece no purgatório porque, apesar de tanto ter feito pelo Brasil, cometeu o pecado de não haver posto Carlos Lacerda no Poder.

Armando Falcão, brilhante na política nacional, não repetia o mesmo desempenho nos contatos com aqueles que o apoiavam na terrinha. O exemplo é o que aconteceu com saudoso Almir Pinto, que coordenava sua votação em Maranguape para deputado. Almir o procurou, quando Ministro da Justiça. A secretária lhe informou que, logo que o Ministro pudesse, mandaria ele entrar no gabinete. Demorou tempão e nada. Almir foi falar novamente com a funcionária, que então lhe informou que Falcão já tinha saído, pela porta privada, pois fora chamado pelo Presidente. Quer dizer, não custava nada ter dado um abraço no cabo eleitoral e convidá-lo pra ir à noite a sua casa, para um cafezinho bem cearense.

O acervo do grande Virgílio Távora expõe dois governos, duas senatórias, três deputações federais e Ministro da Viação e Obras Públicas no Regime Parlamentarista de Tancredo Neves, além de pioneiro da Nova Cap. E uma única derrota, para Parsifal, na disputa de 1958, quando foi batido pela grande seca que assolou o Ceará.

José Walter foi um dos melhores prefeitos que Fortaleza teve, apesar da Praça do Ferreira, para a qual até hoje não se consegue uma explicação, pois representou uma baixa numa administração muito boa, ressaltando-se, inclusive, a seriedade com que geriu as finanças municipais.

César Cals, grande administrador, não sabia fazer política, tanto que, tendo sido um dos cinco maiores governadores que tivemos e tendo ocupado Ministério de Minas e Energia por seis anos, não soube transformar os dois altos cargos em rendimento para seu grupo que acabou.

Alcunhei governador Virgílio Távora de “Redentor”, pela simples razão de que seus antecessores imediatos, todos três grandes nomes, não tinham vocação administrativa e não fizeram muito pouco pelo Estado, quais sejam Paulo Sarasate, Flávio Marcílio e Parsifal Barroso. Quer dizer, VT não encontrou casa arrumada para começar.

Tasso Jereissati nunca nutriu grande apreço pelos governos César Cals e Adauto Bezerra. Dos coronéis, só Virgílio frequenta a sua lista de aprovação.

Quando da Revolução de 64, meu então patrão Eduardo Campos parecia ser o nome pra suceder Murillo Borges na Prefeitura, porém a Linha Dura Militar lançou José Walter, que foi o escolhido, e, num gesto de boa vontade, fez de Milton Pinheiro, irmão do Manuelito, seu primeiro Secretário, da Administração.