Categoria: Apanhado político

Paes de Andrade teve três mandatos de deputado estadual, porém apenas duas eleições, pois, na primeira vez, em 1950, ficou na suplência, assumindo com a morte do colega Queiroz Matoso, em acidente de carro. Agora, federais foram oito, empatando com Furtado Leite.

Parsifal Barroso ficou no Governo e avalizou União Pelo Ceará, que ungiu Virgílio Távora. Porém, muito se comentou na época que os candidatos de sua preferência eram Armando Falcão, pelo PSD, ou José Flávio Costa Lima, pela UDN, só que o PSD já não se satisfazia com Falcão e a UDN não pretendia lançar um empresário, embora deputado.

As seis autoridades primordiais do Almanaque, em cerimônias estaduais, recebem a seguinte ordem de Precedência: Governador, Vice, Presidente da Assembleia, Presidente do Tribunal de Justiça, Prefeito da Capital e General-Comandante.

Eu não peguei, pois tinha apenas 15 anos, mas, até 1954, se votava também para suplente de senador. O que parecia até lógico, pois o ungido pode assumir o lugar na Câmara Alta do País.

Amigo, ou pelo menos tendo boa chegada a todos os governadores, desde que me dei por gente, só dois eu entrava de chapéu na mão, sobretudo, nas residências, graças aos bons olhos como era visto pelas Primeiras-Damas, Olga Barroso e, sobretudo, Luíza Távora.

Primeiro governador em quem votei foi Virgílio Távora, em 1962. Na eleição anterior, de 58, torci por ele, que já conhecia, porém ainda não tinha idade. Foi quando aconteceu sua única derrota, perdendo pra Parsifal, de quem só depois vim a ser amigo e de quem ganhei meu primeiro emprego.

Vicente Augusto, de Lavras da Mangabeira, foi sempre apontado como uma das melhores cabeças da política cearense. Porém, obteve muito pouco, pra tão decantada capacidade, um só mandato de deputado federal e eleição nem sempre garantida na estadual, ficando muitas vezes na suplência.

Raul Barbosa só teve um mandato legislativo, tendo saído constituinte em 1946. Fez um grande governo, descontando as grandes dificuldades da época, quando se levava um mês pra ir daqui pro Rio, capital da República. Largou para disputar o Senado, porém o cearense não soube retribuir, e terminou em quarto lugar. Um dos maiores presidentes do Banco do Nordeste, sendo o outro Rubens Costa, e mais tarde o Governo o fez diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento em Washington. Um evidente exemplo de competência e seriedade na vida pública.

O senador Fernandes Távora, pai de Virgílio, morreu sem receber a pensão parlamentar. Simplesmente negou-se a colaborar, por considerar imoral. Foi um dos homens públicos mais sérios que o Ceará e o Brasil já possuíram.

Esmerino Arruda foi o grande perdedor da suplência do Senado. Eleito primeiramente com Cid Carvalho e depois com Sérgio Machado, não assumiu um só dia, em 16 anos.

Fausto Cabral e Waldemar Alcântara foram indubitavelmente dois suplentes de sorte, o primeiro, tirando quase todo mandato de Parsifal Barroso, que assumiu Ministério do Trabalho e depois Governo do Estado, e o segundo, valendo-se do passamento de Paulo Sarasate. O médico Antônio Jucá seria também citado, pois suplente de Jereissati, que, mal assumiu, foi batido pelo coração. Acontece que o pioneiro da cardiologia moderna nem chegou a contemplar o segundo ano.

Manoel Rodrigues exercia o terceiro mandato federal, quando partiu batido pelo coração, em Brasília. Antes, fora deputado estadual, substituindo o irmão Edmundo, que só teve uma eleição, optando pelas atividades empresariais.

Em seleto jantar, na casa da empresária pernambucana Helena Pessoa de Queiroz, me entrosei rapidamente e logo estava papeando com Cid Sampaio, da aristocracia da cana-de-açúcar e um dos melhores políticos nordestinos e provavelmente responsável pelo lançamento de Miguel Arraes. A conversa ia num crescendo, quando um jornalista amigo me chamou, sem nenhum propósito especial, quando ia voltando, reparei que a roda estava desfeita, então não tive outro jeito, a não ser voltar para o hotel e dar a noite quase inteiramente por perdida.

Após queda de Jango, reunido no Palácio da Guerra do Rio com os governadores que haviam apoiado o movimento, Costa e Silva sugeriu o nome de Carvalho Pinto para o mandato tampão, aí Carlos Lacerda tomou a palavra e anunciou que ele e seus companheiros já haviam optado pelo nome de Castello Branco.

Além, naturalmente, de Carlos Lacerda, houve dois civis que eu torci para serem presidentes, Leitão de Abreu, duas vezes Chefe da Casa Civil, e Aureliano Chaves, governador de Minas, que foi vice de João Figueiredo.

Quando Lacerda partiu, o Presidente que o Brasil não teve, o general Médici, um dos três maiores que tivemos, para muitos, o maior, mandou que o filho o representasse no funeral, certamente lembrado do que ele tinha feito pelo levante que derrubou o presidente Goulart do qual, o incontestável chefe civil.

O presidente João Goulart, de quem o dr. Parsifal Barroso havia sido Ministro do Trabalho, tinha um lugar para o professor, qual seja embaixador em Israel. Porém, não chegou a nomeá-lo, pois aconteceu 64, que o derrubou. Testemunhei, num jantar do 410 da Barão de Studart, dona Olga pedindo informações ao pai de VT, Fernandes Távora, que tinha morado em Telaviv.

Quando Miguel Arraes foi candidato a prefeito, na capital pernambucana, prometeu que, se eleito, poria comida na panela de quem não tinha. Então, o poeta maior, Manoel Bandeira, criou o slogan considerado infame pela esquerda: Recife, Com Arroz, Sem Arraes.

O padre Palhano, eleito deputado federal, conseguiu boa chegada junto ao presidente Goulart. Quando ele foi derrubado, e lançaram Castello Branco, logo articulou seus colegas do PTB para apoiá-lo, o que, entretanto, não impediu sua cassação, regida, segundo disseram na época, por seus inimigos sobralenses.

São Paulo perdeu chance de fazer três maravilhosos presidentes da República. Lucas Nogueira Garces, que foi um governador de mão cheia, Olavo Setúbal, que Geisel, se não insistisse em militar, poderia ter feito seu sucessor, e, naturalmente, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, cujo pai foi senador por Pernambuco, eleito pelas esquerdas de Miguel Arraes.