Bola rolando

Romário, que conheci pessoalmente numa praia de Barcelona e achei um cara legal, foi a maior prova de que o Brasil não estava com nada, quando venceu o Mundial-Circo dos Estados Unidos. Tanto que, tendo sido o artilheiro brasileiro, naquela lamentável competição definida por pênaltis, só fez cinco gols em sete jogos e uma prorrogação e passou os últimos 130 minutos sem furar as redes.

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Na Copa que o Brasil mais ganhou com merecimento, a de 1970, no México, o juiz israelense deixou de marcar um pênalti de Carlos Alberto no inglês Lee. Se assinalado e consignado, dificilmente o Brasil teria ganhado, pois os britânicos, que detinham, então, o título, endureceram o jogo e perderam várias oportunidades no segundo tempo. O escrete ganhou de 1 x 0, gol de Jairzinho, em jogada onde entrou a genialidade primeiro de Tostão e depois de Pelé.

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Na minha entrevista com Obdulio Varela, em sua modesta casa de um arrabalde de Montevidéu, ele confessou seu espanto de o centro-médio Rui Campos, do São Paulo, não ter sido titular, pois Flávio Costa preferiu Danilo, do Vasco, que não era decididamente de Seleção. O Rui era bolão, assim definiu.

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Já disse que Flávio Costa não foi um grande treinador e sou dos que participam da conjectura de que se ele houvesse escalado Nilton Santos, no lugar de Bigode, o Uruguai não teria feito o segundo e decisivo gol, pois Santos, como na época era somente conhecido, não teria ido em cima de Julio Perez, que lançou a bola para Giggia, como Bigode fez, ele teria ficado ao lado do ponteiro uruguaio, que era o seu homem naquele jogo fatal.

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O maior treinador do futebol brasileiro não foi Flávio Costa, que não era um estrategista, e muito menos Vicente Feola, um dorminhoco. Talvez Ademar Pimenta, do Mundial de 38 e do Sul-Americano de 42, quando, em ambos, o Brasil fez boa figura.

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Falam muito na linha média Eli, Danilo e Jorge, do Vasco, e Jadir, Dequinha e Jordan, do Flamengo, porém a melhor intermediária do futebol brasileiro em clube foi a do São Paulo, do meio para o fim dos anos 50, Bauer, Ruy e Noronha, todos três craques, enquanto vascaíno Jorge não era e o rubro-negro Jordan também não era.

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Expedito Machado, quando deputado estadual, foi eleito presidente da Federação Cearense de Desportos, guindado pelos principais ases da crônica esportiva. E salvou futebol cearense, que estava a um passo da bancarrota total. Morreu sem ser reconhecido.

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Melhores times do meu tempo foram dois, o Vasco, do Rio, e o Santos, de Pelé. Se tivesse idade, teria curtido o São Paulo, de Leônidas da Silva, que tinha maior linha-média brasileira, toda convocada pra Copa de 50, Bauer, Rui e Noronha. E já grandinho, torci pela Portuguesa de Desportos, de Julinho, Brandãozinho e Djalma Santos.

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Apaixonados pelo futebol apontam Zizinho como o maior jogador da Copa de 50. Grande craque, dos maiores que o Brasil já teve, só que não foi, pois atuou com sua capacidade física reduzida, mercê lesão nos treinos preparatórios. O maior daquele Mundial foi Obdulio Varela, o capitão uruguaio.

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Arati, um apenas razoável lateral do Madureira e depois Botafogo, só jogou uma vez pela Seleção Brasileira, enfrentando México, no Pan-Americano de 1952. Acontece que nessa partida, disputada no Chile, estreou nada mais nada menos que Didi, o futuro bicampeão mundial. E fez assim Arati ter seus 15 minutos de glória.

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O Brasil ganhou o Sul-Americano de 1949, jogado principalmente no Pacaembu de São Paulo e em São Januário, pois não havia ainda Maracanã. Esse título, entretanto, é de pouca valia para os verdadeiros desportistas, pois Argentina não veio, e Uruguai mandou um time de estudantes, tanto que a Seleção disputou a final com o Paraguai, que não representava a força futebolística do continente.

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Naquele tempo, o Campeonato Brasileiro se desenrolava entre as seleções de cada Estado. O jogo Ceará × Pará, realizado no Presidente Vargas ainda de arquibancada de madeira, aconteceu num Sábado Gordo do ano de 1950. Estava 2 a 2, o que classificaria o time visitante, que tinha ganhado em Belém. O prélio se aproximava do final, quando nosso center, Alencar, marcou em visível impedimento, que o juiz cearense Jombrega, muito justamente, anulou. A torcida, de porre, não entendeu assim, e quis linchar o árbitro, que só escapou com vida porque o estádio ficava vizinho ao 23º Batalhão de Caçadores.

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Pernambucano Ademir Marques de Menezes foi estrela no Vasco e, por um ano, no Fluminense. Não brilhou na Seleção, apesar dos cinco ou seis gols assinalados contra Suécia e Espanha, no Mundial de 1950. Acontece que a Suécia mandou um time de estudantes, enquanto o cozinheiro brasileiro da concentração espanhola botou barbitúrico na comida dos jogadores, que já chegaram ao Maracanã dormindo.

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Até hoje, só houve um caso de pai e filho defenderem o Brasil numa Copa do Mundo, todos dois grandes: Domingos da Guia, o Pelé da defesa, em 38, na França, e o sarará Ademir, em 74, na Alemanha.

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O goleiro Ivan Roriz, que foi meu colega no Marista Cearense, era campeão pelo Ceará quando foi chamado para defender a Seleção. Acontece que papou um tremendo frango, deixando passar uma bola que um tal Batistão atirou do meio do campo. O frango valeu o empate para a Seleção Maranhense, e Ivan jamais foi convocado entre os melhores.

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Este repórter, que já foi técnico de futebol em sua natal Aurora, formaria assim uma Seleção Brasileira composta unicamente de craques que não conquistaram o título mundial: Barbosa no arco, Leandro e Domingos da Guia na zaga, Bauer, Fausto e Júnior na linha média, Julinho, Zizinho, Leônidas, Zico e Neimar no ataque. Mesmo sem Pelé e Garrincha, seria tão poderosa quanto o time de campeões.

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Maneca foi um jogador que veio da Bahia para o Vasco da Gama, do meio pro fim dos anos 40. Um craque de verdade, era meia-armador, mas foi aproveitado por Flávio Costa na ponta direita, para substituir o gaúcho Tesourinha, que se lesionara nos jogos preliminares. Foi a sua única chance na Seleção. Depressivo, ao encerrar a carreira, ainda jovem, suicidou-se com veneno, após levar um fora da noiva.

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Não é difícil estabelecer qual foi a maior Seleção Brasileira campeã do mundo, se a de 58, na Suécia, ou a de 70, no México, pois essa última ganha fácil, comportando sete craques, Carlos Alberto, Clodoaldo, Jair, Gerson, Tostão, Pelé, Rivelino, enquanto a anterior escalava cinco apenas razoáveis, Di Sordi, Belini, Orlando, Vavá e Zagallo.

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Dida, que era craque no Flamengo, deu vexame em Copa do Mundo, na primeira partida, na Suécia, em 58, Pelé quebrado, não conseguiu pegar na bola, forçando Feola a, na partida seguinte, escalar Vavá, que não era meia, porém centroavante, para enfrentar a Inglaterra.

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Primeiro título internacional da Seleção Brasileira jogando fora foi o Pan-Americano de Santiago do Chile, em 1952, que não teve muita expressão, pela ausência da Argentina, mas valeu pela vitória sobre o Uruguai, que não enfrentávamos desde a derrota no Maracanã, dois anos antes. Ganhamos de 4x2.